Brasileiro passa três anos viajando de bike do Alasca para o Brasil

s leis de Newton e os conceitos de elétrica, mecânica e termodinâmica ficaram para trás quando o professor André Fatini, de 31 anos, deixou as aulas de física para pedalar por 25 mil quilômetros por mais de dez países. Ele viajou de bicicleta do Alasca para o Brasil durante três anos.

Para alegria da mãe, André voltou sã e salvo, sem grandes lesões e com vontade de ficar em maio do ano passado. Não foi a primeira vez que o professor de física, nascido em São Bernardo, no ABC, se aventurou de bike pelo mundo. Em 2011, ele rodou 15 países da Europa gravando vídeos relacionando conteúdos da sala de aula com os locais em que passava, no projeto chamado “Etapa em Duas Rodas.”

Dessa vez, fez uma viagem independente de 25 mil quilômetros em mais de dez países. Começou com um voo até o Alasca e muita neve. Neste primeiro trecho passou pelo Canadá e Estados Unidos. Conheceu os parques nacionais, se deparou com ursos e encarou trilhas sob um inverso rigoroso. “Foi o momento mais selvagem e solitário da viagem.”

Na bike, ele carregava mochila com alimentos, fogão e demais utensílios, barraca, rede e saco de dormir e até um violão acomodados num carrinho, em um “esquema patrão”, como ele define. Quando passava por cidades procurava a sede dos bombeiros ou igrejas para dormir. Era preciso somente um teto para se alojar. Pagar por hospedagem era raro.

A segunda etapa da aventura foi entre o México e a América Central, trecho marcado pela história das civilizações astecas e maias e pelos amigos cicloativistas que fez. Em um hostel no México, Fatini conheceu seis ciclistas de diferentes países que estavam viajando. A afinidade foi tanta que eles partiram para um roteiro no estado de Chiapas, acompanhados pela dona do hostel, que animada com a ideia, fechou o estabelecimento para participar da aventura. “Nós sete passamos três semanas juntos como uma família. Foi um sonho.”

Depois disso, Fatini seguiu viagem acompanhado por um amigo americano até Colômbia. Neste último trajeto passou pela América do Sul guiado pela Cordilheira dos Andes. “Onde tinha pico, eu me metia. Fiz muita caminhada. Na Colômbia, me diverti muito na natureza e encantei pela beleza do Equador, da Bolívia e do Peru.”

No Chile, o brasileiro fez uma trilha de dez dias pelo Salar de Uyuni até o Atacama, passou por Mendoza e pelo Monte Aconcágua, na Argentina, curtiu as praias do Uruguai e chegou ao Brasil pelas Serras Gaúchas. No Brasil, fez uma viagem pelos cânions, no Sul, pelas cavernas do Petar, até chegar ao Parque Ibirapuera, em São Paulo.

“Foi bom voltar, estava precisando. Fiquei três anos sem banho quente, cama e café. Aprendi a valorizar muita coisa. Fui ajudado muitas vezes, anjos me fizeram milagres. E vi que uma vida simples pode ser muito especial, é preciso de pouco para ser feliz.”

Fatini voltou a dar aulas de física no cursinho Etapa. Neste ano também fará mestrado em neurociência na Universidade de São Paulo (USP), onde concluiu sua graduação. Por enquanto, as viagens de bicicleta serão só aos feriados, fins de semana e férias. Será uma trégua de quatro anos, até que venha a próxima aventura: viajar da Nova Zelândia até a Turquia, passando pelo Oriente Médio. Obviamente, de bike.